Defesa perigosa contra o fogo. Entenda o perigo do retardante de chamas

Compostos químicos conhecidos como retardantes de chamas combatem um mal produzindo outro

Os retardantes de chamas sempre foram muito utilizados, havendo registros desde 450 a.C. no Egito antigo, quando o alúmen de potássio, ou simplesmente alúmen, já era utilizado para reduzir a flamabilidade da madeira. Com o passar do tempo, as técnicas foram mudando e a tecnologia criou novos métodos de prevenir incêndios.

A larga utilização de materiais poliméricos altamente inflamáveis na indústria fez com que a demanda por retardantes de chama crescesse muito. De acordo com Sociedade Brasileira de Toxicologia, somente entre 1990 e 2000, a demanda mundial cresceu em mais de 100%.

Os compostos halogenados clorados e, principalmente, os bromados são dois dos principais retardantes utilizados na indústria, por serem mais baratos. Mas em contrapartida, são os mais tóxicos e danosos ao meio ambiente e à saúde. Dos compostos halogenados bromados, os mais comuns são os PBDEs (éteres de difenilas polibromadas), cuja produção anual gira em torno de 70 mil toneladas.

Em nosso cotidiano encontramos retardantes de chamas em quase tudo que nos cerca, desde fios até na espuma de travesseiros e colchões, passando por chips de computador, placas eletrônicas, televisores, microondas, videogames, aspiradores de pó e outros eletrodomésticos, além de móveis e tecidos sintéticos. Algo que nem enxergamos e que a maioria das pessoas não está atenta aos riscos.

Toxicidade

Os PBDEs podem chegar ao meio ambiente por meio do descarte inadequado, seja durante sua produção e utilização na indústria, ou o feito pelo consumidor final. Além disso, a contaminação em seres humanos e animais se dá, principalmente, pela inalação de pequenas partículas que se desprendem dos aparelhos que possuem o retardante e que geralmente estão misturadas com a poeira doméstica.

O principal composto químico utilizado é o decaBDE que, ao contrário do pentaBDE e do octaBDE, não é tão danoso por si só. Mas quando entra em contato com a luz do sol, sofre uma conversão em seus congêneres mais tóxicos, o que o torna tão perigoso quanto eles. Portanto, é sempre importante estar atento a qualquer tipo de retardante.

Pesquisas descrevem diversos efeitos da exposição aos PBDEs. Em estudos feitos por pesquisadores da Universidade de Estocolmo, trabalhadores que atuam desmontando manualmente equipamentos eletrônicos oito horas por dia apresentaram concentração de PBDEs no sangue 70 vezes maior em comparação aos trabalhadores não expostos diretamente.

Ainda não há estudos suficientes sobre o real dano desse tipo de retardante de chamas. Mas levantamentos preliminares do Ministério da Saúde do Canadá sugerem que os efeitos colaterais estão relacionados a diversas disfunções hormonais, imunológicas, reprodutivas e neurológicas. Além disso, a United States Environmental Protection Agency (US EPA) considera os PBDEs possíveis carcinogênicos.

Meio ambiente

Assim como acontece com outros tipos de poluentes orgânicos persistentes (POPs), os PBDEs permanecem por muito tempo no ambiente. Eles podem ser encontrados nos mais diferentes lugares. Em fluidos biológicos humanos como a gordura, leite materno e sangue, em animais, na poeira doméstica e nos alimentos. De acordo com o Institute of Ocean Sciences, do Canadá, em lugares distantes, como as camadas polares, já é registrada a presença dos PBDEs no ambiente e no seu ecossistema.

Especificamente no caso do Brasil, os PBDEs podem ser eliminados junto com outros tipos de resíduos industriais, uma vez que não há uma legislação específica sobre o assunto. Em se tratando de sua presença nos eletrônicos, por ocasião da Política Nacional de Resíduos Sólidos, seus efeitos poderão ser reduzidos em razão da tendência dos eletroeletrônicos serem progressivamente descartados de maneira adequada.

Dados apresentados no 24th International Symposium on Halogenated Environmental Organic Pollutants and POPs, realizado em 2004 na cidade de Berlim, apontam que 60% dos produtos quem contém algum tipo de substância tóxica, incluindo o PBDE, não são descartados da maneira correta. Dessa forma, não são reutilizados como fonte termodinâmica ou na produção de produtos reciclados. Isso se dá, principalmente, pela falta de uma legislação específica sobre o assunto e pelo alto custo desse tipo de reciclagem.

O chorume produzido por esse tipo produto, assim como qualquer outro tipo de resíduo líquido da decomposição do lixo, pode atingir e contaminar lençóis freáticos. Já a queima dos retardantes de chama bromados geram compostos extremamente tóxicos como os polibrominato dibenzo furanos (PBDFs) e os polibrominato dibenzo dioxinas (PBDDs).

O futuro

Os retardantes de chama são, inegavelmente, importantes por conta da segurança contra incêndios oferecida aos consumidores. Mas a poluição gerada pelos compostos halogenados clorados e bromados é por si só um grave problema que já é percebido na natureza.

O constante crescimento da demanda por esses compostos químicos, em especial os diferentes tipos de PBDEs, e, no caso do Brasil, a falta de legislação, apontam para um prognóstico preocupante. Até o momento, é a troca de um problema por outro.

Mesmo sendo difícil não entrar em contato com os retardantes de chama, é importante tentar manter-se longe deles. Evite o uso de travesseiros ou colchões feitos de espumas de poliuretano, assim como quando possível as roupas de tecido sintético. Não entre em contato direto com chips de computador e placas de produtos eletrônicos. Como os PBDEs se alojam na gordura corporal, evite alimentos gordurosos e mantenha uma dieta saudável.

E não se esqueça de fazer o descarte apropriado de todos os produtos citados anteriormente, para que a contaminação não chegue ao meio ambiente. Para informar-se melhor sobre os motivos que justificam o adequado descarte de diversos itens, conheça nossa seção Recicle Tudo e, caso precise descartar algum objeto e tenha dúvidas sobre onde fazê-lo, visite nossa busca por postos de reciclagem e doação.